Nós que ao filme "As bruxas de Salém", notamos que tudo não passava de uma simples brincadeira de criança, algumas meninas e adolescentes (contavam entre nove e vinte anos) foram flagradas à noite numa floresta, algumas nuas, dançando e cantando ao redor de uma fogueira. Na verdade, tratava-se apenas de uma simpatia, mero ritual de invocação de espíritos para satisfação de pedidos de casamento e de desejos de amores não-correspondidos, dirigido por uma escrava de Barbados, chamada Tituba. Tal cena seria esquecida se não fosse o fato de que, inexplicavelmente, as duas meninas mais jovens caíssem em um estranho coma. O fenômeno, obviamente, foi interpretado como feitiçaria, que foi levado muito a sério na colônia americana. Uma delas, Abigail Williams (que na vida real possuía apenas 12 anos na época), que assim como várias meninas de sua idade, tiveram os pais mortos pelos índios, (Winona Ryder), tinha se envolvido com John Proctor (Daniel Day-Lewis), um fazendeiro casado, quando trabalhou para ele, mas após o fim do caso foi despedida. Assim, desejava a morte de Elizabeth Proctor (Joan Allen), a esposa deste. Elas são descobertas no seu "ritual" e, acusadas de bruxaria, provocando uma histeria coletiva que atinge várias pessoas, sendo que Abby, a jovem desprezada por John, faz várias acusações até ver Elizabeth ser atingida.
A peculiaridade do tema, nos da pontos importantes para reflexão histórica: a colonização inglesa na América do Norte, o papel da religiosidade na vida social do cristão, a situação social da mulher no século XVII. O episódio da caça às bruxas ocorreu na localidade de Salém, Massachussets, entre 1692 e 1693, e como qualquer comunidade de colonização puritana na América Inglesa do final do século XVII, possuía em estado latente as tensões que acabaram por desencadear a "caça as bruxas". Com efeito, a colonização da Nova Inglaterra, realizada por comunidades de protestantes ingleses que se autodenominavam "puritanos", foi à construção de uma comunidade sagrada, fora do alcance da perseguição da realeza britânica.
Nessas comunidades, acreditava-se que eram constituídas segundo um plano divino para a redenção humana, era corrente a idéia de que a formação de cidades e vilas relativamente prósperas, num local inicialmente hostil, era sinal de que a mão de Deus os guiava. Os colonos europeus na América do Norte não eram exceção, entre a vida social e a vida religiosa, sentiam a presença de Deus. Por causa disso, muitos dos conflitos sociais dessa época assumiam linguagem religiosa, pois era essa uma das seivas da vida social associando intimamente o poder divino com o poder terreno. Os membros da Igreja puritana reservavam para si os cargos públicos, juntamente por acreditarem que era o dever do Estado apoiar a Igreja, cobravam dos fieis o comparecimento aos cultos, mesmo os que não eram membros, exigiam uma moralidade estrita e tudo mais que aumentasse as possibilidades de salvação de todos os membros da comunidade. Com isto vemos o medo do desconhecido e a necessidade de dar sentido ao mundo que nos cerca levando o homem a fundar diversos sistemas de crenças, cerimônias e cultos, quase sempre centrados na figura de um ente supremo, que o ajuda na busca da compreensão do significado último de sua própria natureza, deflagrando distúrbios de comportamento que vêm sendo um motivo de preocupação crescente, um comportamento como esse, que vem a ser um sintoma claro de esquizofrenia.