sexta-feira, 20 de maio de 2011

Gilka Drumond: CANA-DE-AÇÚCAR NO PERÍODO COLONIAL

Gilka Drumond: Cap 18 "A Civilização do Açúcar"

Entre as razões pelas quais o açúcar foi escolhido como o produto responsável pelo início da colonização sistemática da América portuguesa estão o fato de ser esse um produto tropical com mercado garantido na Europa e com possibilidades de gerar altos lucros para a metrópole portuguesa. Além disso, havia o interesse dos comerciantes holandeses em investir na área de produção, existiam condições geográficas favoráveis ao desenvolvimento da lavoura canavieira e ainda o recurso possível para a obtenção da mão de obra escrava. E principalmente porque os portugueses já possuíam experiência com a produção de açúcar nas ilhas africanas do Atlântico.

O engenho colonial
A grande propriedade de produção açucareira acabou assimilando a denominação de engenho, que era apenas um de seus elementos. A propriedade englobava as terras de plantação de cana-de-açúcar, o setor agrícola da plantation, e o engenho propriamente dito, o setor fabril da plantation, responsável pela transformação da cana em açúcar.
O termo plantation substitui a tradicional denominação tripé da agricultura de exportação: latifúndio, monocultura e escravidão. O que diferencia a plantation de outras culturas agrícolas é a existência, nela, de um setor fabril para o beneficiamento da produção.
O setor agrícola da unidade de produção açucareira compunha-se de dois setoresque se articulavam: o setor agroexportador, responsável pela produção da mercadoria destinada à exportação, e um setor camponês, produtor de alimentos, subordinado ao primeiro, exercido pelos próprios escravos casados por meio de seu trabalho autônomo em lotes concedidos pelos seus senhores em usofruto. Esse sistema escravista protocamponês era chamado nessa época de brecha camponesa, muito embora muito historiadores defendam a ideia de que o sistema era muito mais que uma mera brecha e, sim, bastante generalizado na América portuguesa.


Esse sistema permitia que os escravos produzissem e comercializassem excedentes que eram aplicados na compra de sua alforria e de sua família ou mesmo na compra de escravos para trabalharem em suas roças.
A economia açucareira, embora tenha passado por uma grave crise na conjuntura da expulsão dos holandeses, se soergueu e, no século XVIII, comparada com o ouro em termos de libras esterlinas, foi mais rentável que o metal.
Essa é uma das razões de evitarmos a ideia de “ciclos” da economia colonial, pois as culturas permanecem e convivem com novas atividades que surgem, tornando equivocada a ideia de que uma atividade perece quando uma outra aparece
A sociedade brasileira dos séculos XVI e XVII estava dividida em dois grupos principais: senhores e escravos.
   O engenho era um mundo mais ou menos fechado, onde a vida das pessoas estava submetida às ordens e autoridade do senhor de engenho.

   Os senhores de engenho eram portugueses ricos que se dedicavam à produção e ao comércio do açúcar. Sua autoridade não se limitava apenas à propriedade açucareira, estendia-se por toda a região vizinha, vilas e povoados, através de sua participação nas câmaras municipais.

   Os escravos trabalhavam nas plantações, na moenda, nas fornalhas e nas caldeiras. Era comum os escravos perderem a mão ou o braço na moenda. Em muitos engenhos, próximos à moenda havia um pé-de-cabra e uma machadinha para amputar o membro dos escravos acidentados.

   Entre esses dois grupos opostos, havia uma camada intermediária de pessoas que serviam aos interesses dos senhores. Como: alguns poucos trabalhadores assalariados (feitores, mestres de açúcar, purgadores etc.); os agregados (moradores do engenho que prestavam serviços em troca de proteção e auxílio); padres; alguns funcionários do rei; alguns raros profissionais liberais (médicos, advogados, engenheiros).

      São características dessa sociedade:
   O patriarcalismo: o senhor do engenho era o patriarca (chefe), que concentrava em suas mãos o poder econômico, político e ideológico (isto é, da formação das idéias dominantes).

     O ruralismo: o campo era o centro dinâmico dessa sociedade.

   A estratificação social: era uma sociedade dividida em camadas bem definidas, sendo muito raro alguém conseguir ascender na posição social. Não havia a possibilidade do escravo chegar à condição de senhor ou do senhor descer à posição de escravos.
                                                                                                                             Mestres da História